Descomplicar a Vida


O Céu é um lugar perigoso.

Parece ser slogan diário falar-se de energia positiva, de ser feliz, de ter sucesso, de viver uma vida a dois muito feliz (e o outro ser responsável por isso), de preferência com um sorriso contínuo estampado nas redes sociais, de conquistar todos os desejos, ter aquele carro, aquele lugar no trabalho.

Vamos lá devagar, este slogan que vende bem de “seja feliz, transforme a sua vida e realize todos os seus sonhos, faça só o que lhe traz alegria e dá prazer” pode levar à depressão profunda. Sim, o céu pode ser um lugar muito perigoso.

A busca incessante deste “céu” cria um ciclo vicioso e doentio. Um ciclo vicioso que é alimentado por esta ideia fantasiosa e infantil de queremos filhos bem comportados, uma alimentação saudável, um corpo bonito e perfeito, companheiros que nos fazem felizes, férias fantásticas, família sem problemas, amigos maravilhosos, sermos espiritualmente evoluídos, carros fabulosos, empregos sem stress mas que nos encham a alma e ser da luz, esta auto-exigência fingida de selfies cheias de filtros nas redes é a causa de muitas depressões e atos de agressividade no trânsito, ou com o padeiro, por tanta comparação e competição silenciosa.

A sensação de prazer, como a sensação de tristeza, são passageiras. Não é possível experienciar emoções positivas sem antes termos passado por uma emoção negativa.

Continuar a comparamos a nossa vida com aquilo que vemos nas redes sociais, leva-nos a estados de ansiedade e auto-exigência, um bom exemplo: a cultura tóxica de magreza estimulada pelas redes socias.

Este escapismo das emoções negativas e a fuga imediata para não entrar em contato com o presente aqui e agora, leva-nos à anestesia interna à repressão do que precisa estar livre.

A verdade é, a vida não acontece como queremos, ao querer muda-la ao desejar que seja diferente irá apenas aumentar a narrativa do sofrimento e de contração.

Outra verdade é, quando a vida não acontece como queremos e aceitamos que de momento é assim, leva-nos a um estado de paz.

(O nosso cérebro está biologicamente construído para a adaptabilidade, está continuamente a tentar adaptar-se ao que vivemos no presente. Logo, quem eu sou muda continuamente, de acordo com o ambiente e situação que se apresenta como a vida quer.)

Há vida real e depois há a vida da “ilusão mágica” onde se é sempre feliz e vive-se na luz, onde os casais são perfeitos e encontram o propósito de vida e somos produtivos e com sucesso constante.

Caso ainda não tenhamos compreendido, a vida não nos pede autorização. Vive-se.

Continuar a acreditar que é possível controlar a vida é o mesmo que continuar a acreditar que eu tenho o poder de mudar os outros. Somos levados pela a Vida e não contrário.

Aceitar o que acontece e definir estratégias para alterar o que acontece sem uma expectativa de que tem que acontecer como queremos.

Em vez de tentarmos conquistar uma vida perfeita, porque não ver a perfeição tal como se apresenta neste momento? 

Descomplicar é mais simples.

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