O Confronto com a morte

Neste dias, quer queiramos quer não somos convocados a um confronto com a morte, que é um confronto que a nossa cultura evita a todo o custo. 

Vivemos, socialmente e culturalmente, como se a morte não existisse. Há uma infantilização da nossa cultura, no sentido de que a morte deixa de ser uma construção das nossas próprias vidas. É lamentável que só perante o susto da morte é que olhamos a vida.

Nestes dias celebra-se, os que já partiram, celebra-se a “presença” deles, a memória deles, há algo de muito sagrado nisto.

Fernando Pessoa dizia, “A morte é a curva da estrada, Morrer é só não ser visto. (…) Tudo é verdade e caminho.”

E, cada um de nós é testemunha do mistério desta vida que ultrapassa as nossas explicações. Somos chamados a rezar, a estar presentes, a fazer memória dos nossos que já partiram.

À medida que crescemos e que envelhecemos, temos menos forças, menos capacidades. Mas, ao mesmo tempo, sentimos que isso não é o fim. Porquê? Há algo mais que se vai abrindo “o mundo interior”. Que vai tomando vida dentro de nós. Essa certeza de que há uma interioridade que se vai tornando cada vez mais forte é uma semente, que há de florir.

E é essa certeza que, mesmo ténue e frágil, emerge no coração de cada um de nós.

A vida é um processo de transformação na certeza de que nada se perde no coração e tudo se transforma.

A transformação do nosso peso, da dor agressiva que tantas vezes nos toma, transformar isso em leveza e em suavidade é uma coisa que, só acontece na medida em que também olhamos para a morte.

A vida é um breve instante, um momento, algo que se vai. Se entendes isto, não há mais tempo a perder. Se tudo morre e se transforma, então o que é realmente verdadeiro? Há alguma coisa por trás das aparências, algo sem limite e infinitamente compassivo. Há na realidade alguma coisa que sobrevive ao que chamamos morte.

A morte é um fenômeno da natureza. O morrer, porém, só pertence ao humano. A morte não é o fim da vida, como pensamos, mas sim uma nova forma que a Alma adquire.

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