A arte de viver
Há algo em comum no ser humano, todos buscam paz e harmonia (porque isto é o que falta nas nossas vidas).
Numa sociedade frenética e imediata onde o “fast” é rei, queremos chegar ao último andar sem ter passado pelo 2º piso, queremos ter e adquirir e esquecemo-nos que é essencial vivenciar.
Não é possível crescimento espiritual como magia, é essencial prática e, persistência na prática, estar presente, reconhecer, aceitar e largar.
Todos nós experimentamos ansiedade, irritação, frustração, raiva, desarmonia, etc, quando somos visitados por esses sofrimentos a densidade, a impureza mental instala-se e, por consequência distribuímo-los aos outros também.
Naturalmente somos paz é, possível viver em paz connosco próprios e em paz com os outros. Como mantermos a paz e a harmonia ao nosso redor?
A razão básica para a existência do sofrimento é quando alguém age de uma maneira que não gostamos ou quando não gostamos de alguma coisa que acontece, as coisas que não desejamos acontecem e começamos assim a criar conflito interno.
É assim pela vida fora, coisas indesejadas continuam a acontecer e as desejadas podem ou não acontecer e, este processo de estímulo resposta forma a nossa estrutura física e mental tensa e a vida torna-se um sofrimento.
A vida não corre de acordo com as nossas vontades, como podemos parar de reagir cegamente às coisas de que não gostamos?
Enterrar a negatividade no inconsciente não a erradicará, apenas criará mais problemas. Não é fácil encarar quando a raiva, o medo ou outra emoção surge, apodera-se de nós tão rapidamente que nem percebemos. A dificuldade é que não temos consciência quando surge, surge profundamente na mente inconsciente e, quando chega ao nível consciente, já ganhou tanta força que toma conta de nós sem que possamos observá-la.
Sempre que qualquer emoção surge fisicamente duas coisas começam a acontecer, a respiração perde o seu ritmo normal, torna-se mais forte, a um nível mais subtil uma reação bioquímica começa no corpo, o que resulta em alguma sensação. Cada emoção irá gerar alguma sensação no corpo.
Com a prática e o treino adequado, é muito fácil observar a respiração e as sensações corporais, relacionadas às histórias mentais.
A respiração e as sensações vão ajudar de duas formas.
Primeiro, assim que um medo surgir na mente, a respiração perderá a sua normalidade, posso aceitar este aviso, da mesma forma as sensações vão dar informação. Então, a partir do aviso podemos começar a observar a respiração e as sensações e, a partir deste lugar observamos a emoção.
Este fenómeno físico-mental tem duas faces, numa estão os pensamentos e as emoções a surgir na mente, na outra, estão a respiração e as sensações corporais.
Quaisquer pensamentos ou emoções, que surjam, manifestam-se na respiração e nas sensações daquele momento. Logo, quando observamos a respiração ou as sensações, estamos, de facto, a observar a “poeira mental”.
Em vez de fugirmos ao problema, estamos a encarar a realidade como ela é, veremos que essas impurezas perdem a sua força, não nos dominam mais como no passado. Se persistirmos numa prática consistente começaremos a viver uma vida mais pacífica e cada vez mais livre.
Esta técnica de auto-observação mostra-nos o quanto ignorantes da realidade interior somos por não entendermos que a causa do sofrimento está dentro de nós, nas nossas reações cegas às sensações agradáveis e desagradáveis.
Com a prática, podemos ver o outro lado da moeda. Podemos estar conscientes da respiração e também do que acontece dentro de nós, aprendemos a simplesmente observá-las sem perder o equilíbrio mental. Paramos de reagir e de multiplicar o nosso sofrimento, permitimos as emoções manifestarem-se e desaparecerem.
Pouco a pouco, a mente tornar-se-á mais liberta, uma mente livre está sempre cheia de amor, amor desinteressado, está cheia de compaixão pelas próprias falhas e sofrimentos dos outros, cheia de alegria, cheia de equanimidade.
Quando alguém atinge este estágio, todo o seu padrão de vida muda. Uma mente equilibrada torna-se pacífica e a atmosfera circundante da pessoa também se tornará permeada de paz e harmonia e, isso influenciará e ajudará os outros também.
Ao aprender a permanecer equilibrado diante de todas as coisas que se experimentam dentro de si, desenvolve-se o desapego, no entanto esse desapego não é escapatório ou indiferente aos problemas do mundo, é sensível e sem agitação, pleno de amor, compaixão e equanimidade.
Este foi o ensinamento do Buda, uma arte de viver. Ele nunca estabeleceu nem ensinou nenhuma religião, ensinava a observar a natureza tal como ela é, observar a realidade interior.
Na ignorância continuamos a reagir de maneiras que nos prejudicam a nós e aos outros, quando surge a sabedoria de observar a realidade como ela é, o hábito de reagir desaparece. Quando paramos de reagir cegamente, somos capazes de agir verdadeiramente.
O que é essencial é conhecer-nos a nós mesmos, não apenas intelectualmente, e não apenas emocionalmente, muito mais do que isso, precisamos conhecer a realidade experimental.
Precisamos experimentar diretamente a realidade desse fenómeno físico-mental, observar as coisas como elas realmente são, não como parecem ser ao comando das nossas perceções.
Quando experimentamos essa verdade, aprendemos a parar de reagir cegamente, e naturalmente, os antigos padrões serão gradualmente erradicados é experimentar a própria realidade pela observação continua e imparcial, dentro de si mesmo, de todo o fenómeno físico-mental sempre em mudança e que se manifesta como sensações.
Isto pode ser praticado por qualquer um e por todos, é um código de vida que respeita a paz e a harmonia dos outros.
Que todos desfrutem da verdadeira paz, da verdadeira harmonia, da verdadeira felicidade.