A cegueira cognitiva
A cegueira cognitiva
A consciência do macro sistema em que estamos inseridos, enquanto seres humanos, deveria ser fundamental para compreendermos a nossa relação com a natureza e o nosso papel no equilíbrio do mundo em que vivemos. No entanto, vivemos numa sociedade profundamente doente, onde a adaptação bem-sucedida a estruturas disfuncionais muitas vezes conduz à alienação. Esta normalização do adoecimento colectivo anestesia a consciência que poderia ser transformadora profundamente.
Ao invés disso, seguimos distantes da verdadeira compreensão dos sistemas que nos interligam e, em vez de nos questionarmos sobre o impacto das nossas ações, limitamo-nos a viver como se estivéssemos num estado de “ignorância confortável”, uma ignorância que nos preserva da responsabilidade de agir, mas que também impede-nos de viver de com mais presença, consciente e alinhada com a natureza. Afinal, somos feitos das mesmas moléculas que compõem o mundo natural. Ao dissolvermos a separação entre mente e corpo, abraçamos gentilmente este mundo como parte de quem somos e do que somos.
Muitas vezes, a humanidade tende a distanciar-se da natureza, criando uma desconexão que alimenta a cegueira cognitiva (uma forma de ignorância enraizada na dificuldade de compreender a totalidade e a complexidade dos sistemas que nos rodeiam). Esta cegueira manifesta-se na forma como exploramos os recursos naturais, consumimos de forma desenfreada e muitas vezes sem necessidade, desconsideramos os ciclos da Terra e, frequentemente, colocamo-nos acima de todas as outras formas de vida, esquecendo que somos profundamente interdependentes de tudo o que nos rodeia e, por isso mesmo, somos muito frágeis.
Parece, ainda, que vivemos como se estivéssemos na época de Galileu, quando a verdade parecia estar ao alcance dos “sabedores de tudo” que com a sua visão geocêntrica, esqueceram-se da humildade necessária para se abrirem ao novo e reconhecerem que há sempre muito mais além daquilo que se sabe.